NETFLIXING: GILMORE GIRLS: UM ANO PARA RECORDAR - SÉRIES E TV


ESTA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS DA NOVA TEMPORADA DE GILMORE GIRLS

Leia a fica técnica aqui


Nota do Razão de Aspecto:


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O lançamento nova temporada de Gilmore Girls causou nos fãs um misto de alegria e nostalgia, de empolgação e receio. Ao mesmo tempo em que criamos a expectativa de reencontrar os divertidos e esquisitos moradores de Stars Hollow, temíamos que algo se quebrasse na nossa relação com aquele universo.  Seria impossível apenas repetir a fórmula de sucesso das primeiras sete temporadas, pelas mais diferentes razões: alguns personagens perderiam destaque e se tornariam participações especiais, em função da indisponibilidade dos atores originais (Casos de Sookie, Dean e Jess, por exemplo); a morte de Edward Herrmann certamente mudou os rumos de toda a trama com a morte de seu personagem, Richard Gilmore; as referências à cultura pop precisavam ser atualizadas; e, principalmente, seria preciso demonstrar a evolução e o desenvolvimento das personagens principais.

Felizmente, Amy Sherman-Paladino e Daniel Paladino fizeram um ótimo trabalho.

Claro, nos primeiros minutos, talvez durante todo o primeiro episódio, a sensação principal é a de estranhamento, um sentimento muito parecido com aquele de quando encontramos novamente um velho amigo que não vemos há muito tempo. As coisas que gostamos estão lá, mas há muitas novidades a serem assimiladas. A grande diferença reside na ênfase que as temporadas anteriores deram a alguns personagens que, agora, passaram a ser meras referências ou citações. O caso mais evidente é o do núcleo de Sookie e Jackson, que têm uma aparição cada nos quatro episódios. Este é o mesmo caso de Miss Patty, com uma breve aparição no primeiro episódio.  A sensação de estranhamento começa a se dissipar quando as participações de Taylor, Kirk e Babete se intensificam, quando voltamos às reuniões do "City Council" e, principalmente, quando se retoma a dinâmica da relação entre Lorelai e Emily Gilmore. Também tivemos uma participação muito pequena de Lane, sua mãe e sua banda. Pelo menos, tivemos alguns segundos de participação de Sebastian nas guitarras.



A temporada é recheada de ótimos momentos dos personagens coadjuvantes. Temos mais um "Film by kirk" - que, para um cinéfilo como eu, é uma das paródias sarcásticas mais inteligentes já feitas para a TV- , a parada gay de Stars Hollow - impossível de ser realizada pela falta de gays suficientes na cidade;-e a ideia mais cômica e divertida de todas. Temos, também, o "Stars Hollow Musical", escrito e dirigido por Taylor, que resulta numa das melhores sequências de humor ácido de toda a temporada. Além disso, temos Paris (always burning) como dona de uma agência de barrigas de aluguel. Por último, a participação do trovador da cidade. Que fã não se lembra o episódio sobre a disputa de espaço dos trovadores na reunião do "City Council"? Cada um desses momentos deu aos espectadores a sensação de familiaridade, quase um déjà vu.



Gilmore Girls se utiliza de alguns recursos narrativos muito inteligentes para causar o efeito que os espetadores tanto esperavam. Os episódios repetem alguns planos e diálogos-chave das temporadas anteriores. A posição dos atores, as falas, a posição das câmeras e as situações foram estrategicamente repetidas. Os melhores exemplos são o de Lorelai buscando um empréstimo da mãe, desta vez para ampliar o Dragonfly, o de Jess saindo da casa das Gilmore e admirando Rory pela janela e o encontro de Rory e Dean no mercadinho da cidade. A sensação causada por essas cenas é um misto de vontade de chorar com vontade de rir. Basicamente, revivemos intensamente as emoções da primeira vez que presenciamos aquelas cenas.

Também não faltaram novidades nas referências pop e críticas sociais bem humoradas, que sempre foram o ponto forte de Gilmore Girls. Entre as novidades, temos a indiscutível Game Of ThronesO Regresso e o excelente seriado francês Les Revenants. nas críticas sociais, temos uma verdadeira metralhadora de piadas sobre hipsters e a criação da Gangue dos Trinta  Poucos Anos - jovens promissores, que foram maltratados e cuspidos pela vida e voltaram para a casa dos pais, sem perspectiva (situação que Rory se recusa a admitir que se aplica a sua vida). 



Para muito além do fan service, a história precisava evoluir. Nove anos depois, os personagens tinham de enfrentar novos dilemas, talvez alguns nem tão novos assim. Rory tem 32 anos, está em um momento difícil de definição da vida e da carreira. Lorelai ainda não reconstruiu a relação com Emily. Luke continua o mesmo. 

Os dilemas de Lorelai e Luke são mais do mesmo, mas quem disse que repetição é necessariamente ruim? Depois de tanto tempo, uma boa dose de repetição da fórmula não faz mal a ninguém. Por outro lado, o desenvolvimento da relação de Lorelai e Emily forma um excelente arco dramático, baseado na superação do luto. O desfecho de Emily Gilmore foi muito diferente daquilo que podíamos imaginar, mas, também, muito melhor do que se podia esperar.



Gostei muito de que Rory ainda estivesse presa a seu relacionamento com Logan, mesmo tantos anos depois. Criou-se, assim, um vínculo a ser superado com o passado, algo que poderia marcar o processo de amadurecimento da personagem. Não seria possível para Rory evoluir, sem que sua relação desequilibrada e, em certa medida, abusiva com Logan ficasse para trás. O custo dessa superação foi alto e fechou o ciclo narrativo, para, ao mesmo tempo, abrir possibilidades de um novo ciclo. A gravidez de Rory e o corte seco da última cena deixam em aberto o futuro da personagem e o futuro da série.

Gilmore Gilrs: Um Ano Para Recordar foi uma temporada memorável, apesar de todas as limitações impostas pelo tempo e pelos destinos do antigo elenco. A cada "la lalala la la lala..." nos sentimos novamente em casa, confortáveis naquele universo cheio de personagens conhecidos e familiares. Amy Sherman-Paladino deu o final merecido a um dos melhores seriados já produzidos para a TV.






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