FLORENCE: QUEM É ESSA MULHER ?




Gênero: Drama/Comédia
Direção: Stephen Frears
Roteiro: Nicholas Martin
Elenco: Meryl Streeo, Hugh Grant, Simon Helberg, Rebecca Ferguson, Christian McKay, Danny Mahoney, Dar Dash, David Haig, David Menkin, Dilyana Bouklieva, Elliot Levey, Greg Lockett, James Sobol Kelly, John Kavanagh, Jorge Leon Martinez, Josh O'Connor, Liza Ross, Marie Borg, Mark Arnold, Martin Bratanov, Martyn Mayger, Neve Gachev, Nina Arianda, Paola Dionisotti, Phelim Kelly, Philip Gascoyne, Philip Rosch, Rosy Benjamin, Sid Phoenix, Solomon Taiwo Justified, Stephanie Lane, Tony Paul West
Produção: Michael Kuhn, Tracey Seaward
Fotografia: Danny Cohen
Montador: Valerio Bonelli
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Duração: 110 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 07/07/2016 (Brasil)
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: BBC Films / Pathé / Pathé Pictures International / Qwerty Films


 Nota do Razão de Aspecto:

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A vida de Florence Foster Jenkins, socialite norte-americana cuja paixão pela música e pelo canto só era igualada pela sua falta de afinação, já despertou interesse de diversos dramaturgos e roteiristas. A última e mais famosa das peças foi "Glorious !", de Peter Quilter, que estrou em 2005 do West Side de Londres, foi indicada ao prêmio Olivier como Melhor Nova Comédia, e já foi montada em mais de 40 países pelo mundo.

No ultimo ano, o espírito de Jenkins parece ter visitado os sonhos de pelo menos dois cineastas: o francês Xavier Giannoli  dirigiu Marguerite em 2015, inspirado na vida e carreira da "cantora" norte-americana. E Stephen Frears, veterano diretor inglês, conduziu "Florence Foster Jenkins", lançado recentemente no Brasil como "Florence: quem é essa mulher?", em mais um desses exercícios bizarros de criação de subtítulos que acometem os produtores/distribuidores/tradutores brasileiros.


O filme se passa em 1944, último ano da vida de Jenkins. Milionária, patrona das artes, e fundadora do Clube Verdi, Jenkins (Meryl Streep) participa de espetáculos apresentados por seu marido, St.Clair Bayfield (Hugh Grant), ator inglês dado a monólogos shakesperianos. Após participar de vários tableaux vivants (representação feita por um grupo de atores de um quadro existente ou inédito), Jenkins decide voltar a cantar, após assistir a um concerto da soprano Lily Pons. Para acompanhá-la, é contratado o pianista Cosme McMoon (Simon Helberg, mais conhecido como o Howard Wolowitz da série "Big Bang Theory").


Tudo estaria perfeito se Jenkins não fosse completamente incapaz de cantar ao menos razoavelmente bem. Sua falta completa de afinação, imperícia de técnica e desempenho sofrível em termos de pronúncia e ritmo a colocaram de forma meio torta na história da música. Duvida?  Ouça um registro de época aqui.

No filme, Bayfield tenta selecionar a audiência cuidadosamente, de forma a impedir que público e crítica musical pouco dispostos a celebrar a "artista" comparecessem às audições mais reservadas. Isso cria um microuniverso feliz, em que a  Jenkins acredita verdadeiramente em seu talento (na vida real, ela sabia das críticas, mas as creditava a detratores de sua carreira). Entretanto, ela decide fazer uma apresentação beneficente de todo seu "talento" em pleno Carnegie Hall, onde é impossível controlar quem comparecerá. O desfecho você verá no filme.

Frears tem em seu currículo filmes acima da média, como Ligações Perigosas (1988) e Alta Fidelidade (2000). Seu filme baseado em fatos reais mais famoso é A rainha (2006), pelo qual foi indicado pela segunda vez ao Oscar de Melhor Diretor (a primeira com Os Imorais, em 1991), e pelo qual Helen Mirren ganhou o Oscar de Melhor Atriz. Filomena (2014) recebeu quatro indicações ao Oscar, embora não tenha o diretor não tenha sido lembrado entre elas.


Após uma participação curta e algo caricatural em As Sufragistas (2015), Meryl Streep volta a mostrar qualidade, mesmo tendo de lidar com muita maquiagem e com uma prótese para aumentar sua compleição física nem sempre tão convincente.  Ela está de parabéns por conseguir faz algo bem difícil para quem sabe cantar (ao menos razoavelmente, como já mostraram em Mamma Mia!, de 2008): desafinar com naturalidade.

Hugh Grant, embora envelhecido, retorna com seu charme e carisma de sempre. Ele entrega um personagem elegante, polido e aristocrático, que oscila entre doses de picaretagem e um profundo carinho pela protagonista. Além disso, ele volta a apresentar uma deliciosa cena de dança, para rivalizar com o rebolado de seu personagem em Simplesmente Amor (2003). Helberg, embora um pouco afetado demais em algumas cenas, completa com simpatia e empatia o trio principal de um elenco que conta ainda com Rebecca Ferguson no papel de Kathleen, amante de Bayfield.

Florence é daqueles filmes muito bem realizados, com produção e figurino caprichado e um elenco competente. Mesmo sem representar um momento genial do diretor, é bem gostoso de ver, como são, em geral, os filmes de Frears, e, assistido sem pretensão, tem a nostalgia de uma Broadway clássica. O filme, entretanto, oscila um pouco no tom, sendo comédia e drama ao mesmo tempo, sem ser excelente em nenhum dos dois gêneros.

Por fim, resta a reflexão: a vida de Florence Foster Jenkins é um exemplo de amor à música, ou uma saga de falta de noção financiada pela disponibilidade financeira?  Em tempos de sucessos comerciais como temos hoje, é bom que se pense sobre isso. 


por D.G.Ducci


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