LOGAN (2017) - CRÍTICA
Logan é uma despedida bastante digna
para Hugh Jackman, mas usa artifícios de roteiro
que enfraquecem o filme
Gênero: Ação
Direção: James Mangold
Roteiro: David James Kelly
Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Holbrook, Richard E. Grant, Stephen Merchant, Dave Davis, Doris Morgado, Elise Neal, Elizabeth Rodriguez, Eriq La Salle, Jaden Francis, Juan Gaspard, Julia Holt, Lauren Gros, , Sienna Novikov.
Produção: Hutch Parker, Lauren Shuler Donner, Simon Kinberg
Fotografia: John Mathieson
Montador: Dirk Westervelt, Michael McCusker
Trilha Sonora: Marco Beltrami
Duração: 135 min.
Ano: 2017
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 02/03/2017 (Brasil)
Distribuidora: Fox Film do Brasil
Estúdio: Twentieth Century Fox Animation
Classificação: 16 anos
Sinopse: Em um futuro não muito distante, em que não existem mais mutantes, Logan se esforça para proteger o Professor Xavier. Sua vida muda completamente quando entra em sua vida uma jovem com poderes muito peculiares, perseguida por uma grande corporação.
Nota do Razão de Aspecto:
(sendo gente boa)
---------- X ----------
Hugh Jackman, ator australiano
com formação em teatro musical, se consolidaria como a face do personagem no
cinema. Embora não correspondesse à descrição física do personagem (baixinho,
atarracado), Jackman ganhou o público com carisma, intensidade e uma grande
dedicação ao papel. Após nove filmes, é quase impossível não associar o
ator ao personagem. Curiosamente, a escolha original para o primeiro
filme dos X-Men (2000) era Dougray
Scott, que não pode filmar devido a uma contusão durante as filmagens de Missão Impossível 2. Se teríamos ou não
um Wolverine tão bom quanto o de Jackman, não saberemos.
Se os dois primeiros filmes do
grupo de mutantes foram bons e ajudaram a abrir mercado para as adaptações de
quadrinhos para o cinema, os dois filmes solo anteriores de Wolverine padeceram
de um mesmo mal: ambos começam bem, promissores, mas resultam em produtos
irregulares, em grande parte pelo interesse em atingir um público maior (o que
demanda uma classificação indicativa mais baixa) e pela aparente necessidade de
encaixar na marra diversos personagens dos quadrinhos (alguém falou em Gambit
ou Deadpool por aí?) – o que quase sempre cria calombos desnecessários no
roteiro.
Desta vez, a trama se passa em
2029. Os mutantes não existem mais, e Logan tenta ganhar a vida como motorista
de uber-limusine. Ele está velho e decadente: seu fator de cura não funciona
mais tão bem, e sua saúde está lentamente se deteriorando. Ele mora isolado, do
outro lado da fronteira entre Estados Unidos e México. Sob seus cuidados, um
certo Charles Xavier (novamente interpretado por Patrick Stewart),
aparentemente senil e constantemente sedado, para que seus poderes
descontrolados não chamem atenção ou causem estragos. O mutante Caliban (com
ator – Stephen Merchant - e abordagem
completamente diferentes do que foi apresentado em X-Men: Apocalypse) completam o núcleo.
Esse estado de coisas será
radicalmente alterado quando Gabriela, uma enfermeira latina, acompanhada de Laura
(Dafne Keen), uma temperamental (por assim dizer) e calada menina, pede ajuda a Logan. Recusando-se
a se envolver em um primeiro momento, ele acaba no meio de uma perseguição –
não a ele, mas à misteriosa jovem que tem mais relações com o passado de
Wolverine do que ele poderia imaginar. Liderando o grupo de perseguidores – Os Carniceiros
– está Donald Pierce (Boyd Holbrook), um ciborgue a mando do Doutor Zander Rice (Richard
E.Grant), responsável por estranhas experiências.
A partir daí, temos basicamente uma
espécie de road movie de perseguição,
que lembra em alguns momentos o primeiro Mad
Max (1979). Aproveitando o inesperado sucesso de Deadpool, este Logan,
dirigido pelo mesmo James Mangold de Wolverine:
Imortal, abandona as amarras da censura e traz, pela primeira vez, um filme
com as fartas doses de violência explícita e de sangue que um personagem como
Wolverine demanda. Inclua-se na receita inúmeros palavrões (alguns até meio
exagerados, da boca de quem sai) e até uma breve cena de nudez. Tendo sido
anunciado como o último filme de Hugh Jackman como Logan, as condições estavam
dadas para um filme bem diferente – e melhor – que os anteriores.
Entre os pontos altos do filme,
temos a ambientação – um futuro próximo, um pouco mais tecnológico e mais duro –
que dá uma sensação terrível de proximidade e verossimilhança. Temos mais uma
vez uma corporação como vilã, e a idiotia humana permanece uma
realidade. As cenas de ação são igualmente muito boas, e a montagem de Michael McCusker e Dirk Westervelt permite compreender sem problemas o espaço cênico e as ações que nele ocorrem.
Além disso, as interpretações do
filme são de altíssima qualidade. Jackman e Stewart, já mais do que acostumados
aos personagens, não interpretam apenas no automático: parecem ter investido no
sentimento de que o filme marca o fim de um ciclo, e entregam atuações densas,
de múltiplas camadas, que envolvem ao mesmo tempo companheirismo, ressentimento
e ternura. Os dois são acompanhados pela estreante Dafne Keen, uma jovem atriz
que interpreta Laura com fúria e selvageria totalmente convincentes. Por fim, há
um nêmesis de Logan no filme que surpreenderá muitos espectadores – e, que,
além de proporcionar boas cenas de luta, colabora para uma interessante
metáfora.
Entretanto, o filme é prejudicado
por artifícios de narrativa que oscilam entre preguiçosos e convenientes. Desde
um vídeo de celular que explica, didaticamente, os antecedentes de alguns
personagens, até poderes que aparecem e desaparecem, dependendo do que o
roteiro precisa. Chega a ser constrangedor o final de determinado personagem,
em meados do filme, que permanece vivo apenas até o momento exato em que ele
não é mais necessário na trama. Outro exemplo é a utilização de cenas do filme Os brutos também amam em determinado
ponto da narrativa. As referências escolhidas, tanto do filme em si quanto dos
diálogos dos trechos exibidos, faz com que uma potencial boa analogia vire apenas
uma obviedade.
Logan tem outros problemas, como certas incoerências – mas isso é
característica da franquia X-Men no cinema. Por exemplo: o fator de cura de
Logan ainda é capaz de expulsar balas de seu corpo, mas é incapaz de fazer o
personagem parar de mancar o filme todo. Em filme anterior, o personagem perde
a memória porque recebeu um tiro na cabeça com uma bala de adamantium. Nesta
continuação, os efeitos desse tipo de bala são bastante diferentes. Esses e
outros furos de continuidade não prejudicam, per se, a experiência do filme, mas colaboram com o pacote de
quebra-galhos que o roteiro usa.
Logan provavelmente agradará bastante aos fãs, que se fascinarão
com o carcaju violento que sempre quiseram ver, e não se importarão muito com
os expedientes ex machina do roteiro.
Para Jackman, o encerramento da trilogia (e, segundo ele, de sua relação com o
personagem) foi marcado por um filme superior aos anteriores – sobretudo por ser
menos irregular. Resta ainda, talvez,
vermos filmes com mais do Wolverine e menos do Logan nos cinemas.
por D.G.Ducci
por D.G.Ducci
Parabéns pela análise lúcida é contundente, Ducci. Apenas um parêntese: fica claro, neste filme, que a citada bala de adamantium é do tipo "dun-dun". E, certamente, os efeitos desse tipo de bala são muito diferentes de uma bala de adamantium comum, como a que afetou a memória de Logan em "Origens". Abraços!
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