GAME OF THRONES - SEXTA TEMPORADA - EPISÓDIO 9: BATTLE OF BASTARDS (COM SPOILERS!)



ALERTAEsta crítica contém spoilers. Proceda à leitura por própria conta e risco.

Confira a ficha técnica do episódio aqui



Nota do Razão de Aspecto:


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FINISH HIM, SANSA!

Esta é a frase que resume o meu sentimento na sequência final do último episódio de Game of Thrones. Tivemos um desfecho previsível, ainda que o modo como chegamos a esse desfecho tenha sido muito bem construído dramática e visualmente. Para que tenhamos um episódio épico, marcante e/ou inesquecível, não é preciso que haja grandes surpresas, mas, sim, que a narrativa cumpra seus objetivos. 

Se, nas primeiras cinco temporadas, Game of Thrones brincava com os nervos dos espectadores quebrando suas expectativas, ao criar protagonistas e heróis que seriam massacrados em prazo curto, nesta temporada, a série tem-se fundamentado na catarse: os fãs vão ao êxtase com a vingança de seus personagens favoritos e com a desgraça de alguns dos maiores vilões da saga. Não se trata de fazer algum tipo de fan service para ganhar mais audiência, pelo contrário, esse momento de catarse foi milimetricamente construído ao longo de seis temporadas (e cinco livros), para que houvesse sentido naquilo que se passou em Winterfell.

Não devemos ignorar como Game of Thrones continua sabendo quebrar expectativas e envolver o público, ao criar uma inversão de valores na relação com diversos personagens. Há duas temporadas, Tormund era um vilão canibal selvagem, agora, é um aliado leal e valoroso. Nesta temporada, chegamos ao cúmulo de criarmos alguma simpatia pelos Lannister (é muito duro admitir), em função da ascensão do Alto Pardal e da Fé Militante, ao ponto de termos pena de Cersei, torcermos pra que ela incendeie tudo e, simplesmente, esquecermos-nos do Casamento Vermelho. Melisandre deixou de ser vilã e passou a ser a heroína dos fãs de Jon Snow. Essa aparente incoerência é falsa, porque essa mudança no ponto de vista dos espectadores sobre os personagens decorre do brilhantismo do roteiro e da construção dos personagens, que, em sua maioria, não são apresentados de forma unidimensional. Conseguimos entender as motivações daquelas pessoas e conseguimos nos identificar com elas, ainda que, muitas vezes, saibamos que é moralmente errado.  A complexidade dessa construção é o que faz de Game of Thrones um ponto de inflexão na história do drama televisivo, para muito além de The Sopranos, Mad Men e Breaking Bad.

Neste episódio, tivemos a resolução de dois núcleos extremos, que representam o gelo e o fogo.

Em Mereen, experimentamos o primeiro momento catártico da noite, quando Daenerys coloca os três dragões em ação e assume o controle de Mereen com uma demonstração de força incrível, mas, ao mesmo tempo, comedida, por influência de Tyrion. Quando todos achávamos que o anão estaria em apuros por suas escolhas erradas, somos premiados com o reforço da confiança e da aliança entre ambos os personagens. Não foi uma escolha narrativa incoerente, considerando que Tyrion é, atualmente, o único aliado de Daenerys que conhece a política de Westeros e que tem experiência verdadeira de governo, além, é claro, de ter o sobrenome daquela que já foi a casa mais poderosa dos sete reinos. No encontro com os Mestres para a negociação da rendição, tivemos um dos poucos e pequenos pontos fracos do episódio: quando Verme Cinzento faz que os mestres escolham um deles para morrer, a reação é estúpida e suicida, "mate este, ele não é um de nós". Ora bolas, e quem Verme Cinzento escolheria matar, o plebeu infiltrado ou os mestres?! Este foi um diálogo muito ruim, mas não compromete o episódio, felizmente.



O encontro dos Greyjoy com a Nascida da Tormenta e Tyrion também nos rendeu boas discussões para o season finale. Ainda na crítica do sétimo episódio, levantei a hipótese de algum envolvimento sexual e/ou romântico entre Yara e Daenerys, afinal de contas, a homossexualidade de Yara tornou-se um recurso narrativo somente quando a caminho de Mereen. Como todos já estamos cansados de saber, em Game of Thrones, nada é incidental. O diálogo entre as duas personagens no momento de formação de aliança foi muito ilustrativo do que vem pela frente. Além disso, a interação entre Theon e Tyrion, remetendo à primeira temporada, demonstra como os roteiristas estão preocupados em construir o desenvolvimento dos personagens e a sua evolução diante de tudo o que enfrentaram nos anos seguintes. No season finale, possivelmente, Daenerys deverá partir rumo a Westeros com sua nova frota naval, para finalmente ingressar no "grande jogo" a que Tyrion se refere.

Por fim, chegamos à tão esperada batalha dos bastardos, aquela que pode ser definida como a cena de batalha mais épica da história da televisão mundial e a que fez deste episódio um ponto de inflexão na linguagem audiovisual da narrativa televisiva. Para além da grandiosidade dos exércitos, dos efeitos visuais e da alta expectativa dos fãs, a cena da batalha foi uma aula de fotografia cinematográfica, narrativa dramática, trilha sonora e, principalmente, de como tornar um desfecho previsível algo catártico.


Pode parecer uma comparação boba, mas não é. Durante a batalha, senti como se estivesse vendo, mais uma vez, um dos filmes da franquia de Rocky Balboa. Eu sabia o que acontecer, eu tinha certeza do desfecho, mas não deixava de torcer, gritar com os personagens, de me envolver totalmente com o que estava acontecendo. Impressionante, desesperador, envolvente.

Em toda a batalha, três planos foram muito marcantes visualmente: Jon Snow empunhando a espada para enfrentar a cavalaria de Ramsay, o corpo de Rickon recebendo flechadas no solo enlameado e Jon Snow escapando do sufocamento, quando estava sendo pisoteado no cerco dos exércitos de Bolton. Esses planos são simbólicos e representativos do que é o verdadeiro campo de batalha, do que resta aos corpos que se acumulam e de como sempre há esperança.


Todos sabíamos, ou, pelo menos, imaginávamos, que o exército dos Lordes do Vale salvaria Jon na undécima hora, mas não sabíamos como isso ocorreria. A sincronia entre a escapada de Jon do sufocamento e a chegada dos soldados de mindinho tornou tudo ainda mais épico e dramático. Nesse desfecho, quero destacar a inteligência de Sansa, que, em nenhum momento, por nenhum segundo, falou sobre a existência daquele exército a Jon, a Davos e a ninguém. De donzela vingativa e subestimada, Sansa demonstrou todo o seu amadurecimento, ao provar a insensatez e a precipitação do irmão (ou primo), por subestimar Ramsay e tomar as decisões mais baseadas em emoção do que eu razão. A frieza de Sansa quando assumiu que Rickon não escaparia com vida foi um tapa na cara de todos que ainda insistiam em chamá-la de sonsa. 


A sequência final, já em Winterfell, também foi eletrizante. Primeiro, pela forma como o gigante Wun Wun foi abatido, sacrificando-se para proteger Jon e os povos livres. Wun Wun teve algumas tarefas importantes ao longo das temporadas: não esqueçamos que ele derrubou os portões da muralha duas vezes, no episódio nove da quarta temporada, para invadi-la, no primeiro desta, para vingar a morte de Jon, e, como seu último ato em vida, derrubar os portões de Winterfell, para que Jon retomasse o castelo de sua família. Nosso simpático gigante, ao contrário de "hold the door (Hodor)", foi o "open the door", de Game Of Thrones. 


O duelo entre Jon e Ramsay teve muita carga dramática. O fato de os arqueiros terem optado por não matar Ramsay e deixarem que seu mestre o fizesse foi algo profundo, representado por um plano de dois segundos da hesitação de um deles, porque deu a oportunidade da realização da vingança. E sabemos que a vingança seria incompleta, se Ramsay não morresse diretamente pelas mãos, ou escolhas, dos Stark. Todo o ódio descarregado por Jon naquela surra memorável acabou ofuscado pelo olhar de Sansa, que queria realizar ela própria a sua vingança, não mais como uma donzela desprotegida, mas como a nova Lady Stark. 


A cena final é redentora, por diversas razões. Primeiro, porque Ramsay teve o destino merecido, devorado pelos próprios cães, derrotado e morto por quem ele humilhou e estuprou. Segundo, porque completou o arco de Sansa, ao transformá-la em uma adulta cínica, cética e sem ilusões. O sorriso de Sansa quando abandona o canil é a epítome da evolução da personagem.




Sansa mostrou-se mais madura e razoável que o irmão (ou primo), e Jon, mais uma vez, provou que Ygrit sempre teve razão e que, no bom português, "sabe de nada, inocente!". Não acredito na teoria de que Sansa esteja grávida, baseada no diálogo final entre ela e Ramsey. Primeiro, muitos meses se passaram desde que ela fugiu de Winterfell, e a gravidez já estaria visível. Segundo, o próprio diálogo parece afastar essa possibilidade, quando ela afirma que o nome, a família e a memória de Ramsay desaparecerão. Não é uma teoria impossível, mas, para mim, esta no mesmo nível da teoria do "clube da luta" de Arya. 

Reforçam-se as indicações narrativas de que o destino de Westeros está diretamente ligado do destino dos Stark e de que estamos próximos de um reencontro entre os remanescentes dos Lordes do Norte. Acredito que, no season finale, Arya deva retornar a Winterfell, ou, pelo menos, estar a caminho, de lá, e Bran deverá chegar acompanhado do Tio Benjen, ou Mãos Frias. De minha parte, continuo acreditando na versão de "bastardos inglórios" em Winterfell, com o Starks reunidos com sede de sangue.

Por fim, descobriremos qual será o preço de Mindinho pela ajuda - possivelmente, o casamento com Sansa -, qual será a reação de Cersei ao seu julgamento - acredito que vá incendiar King's Landing -, o que acontecerá nas Terras Fluviais - ainda acredito na aparição ou, pelo menos, na introdução da personagem de Lady Stone Heart ainda nesta temporada, afinal, teremos Lannisters e Freys reunidos no local onde foi realizado o Casamento Vermelho, Brienne e Podrick estão nas Terras Fluviais e a Irmandade Sem Bandeiras circula pela mesma região. Veremos.

Valar Morghulis.

Como bônus, o making of do episódio. Um aula de audiovisual!


por Maurício Costa





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