X-MEN: APOCALIPSE



Gênero: Ação/Ficção Científica
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Bryan Singer, Dan Harris, Michael Dougherty, Simon Kinberg
Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Oscar Isaac, Sophie Turner, Rose Byrne, Evan Peters, Nicholas Hault, Kodi Smit McPhee,  Tye Sheridan, Alexandra Shipp, Ben Hardy, Hugh Jackman, Olivia Munn Joanne Boland, Josh Helman, Lana Condor, Lucas Till, Tómas Lemarquis.
Produção: Lauren Shuler-Donner, Simon Kinberg
Fotografia: Newton Thomas Sigel
Montador: John Ottman e Michael Louis Hill
Trilha Sonora: John Ottman
Duração: 144 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 19/05/2016 (Brasil)
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Dune Entertainment / Marvel Entertainment / Twentieth Century Fox Film Corporation
Classificação: 12 anos

Sinopse: Mutante super-poderoso, adorado como um deus nas civilizações antigas, desperta em 1983, e recruta quatro cavaleiros para exterminar a humanidade. Só quem pode evitar o fim da civilização é um jovem grupo de mutantes liderado pelo Professor Charles Xavier.


Nota do Razão de Aspecto:



Quando o primeiro "X-Men" estreou em 2000, foi concretizado um sonho de muitos fãs de longa data daqueles personagens. Até então, toda vez em que se cogitava adaptar as histórias do grupo de mutantes para o cinema, apareciam questionamentos sobre o custo que um filme assim geraria, sobre os desafios técnicos de se mostrar tantos poderes diferentes, e sobre a viabilidade de transportar personagens e tramas complexos para a linguagem cinematográfica.


Bryan Singer conseguiu, naquela época, fazer um filme que, se por um lado, mudava muito da cronologia, das histórias de origem e do visual dos quadrinhos, era digno e divertido, com um visual de ficção científica e respeito ao tema principal motivador das histórias: o preconceito e as dificuldades de aceitação e inserção de minorias na sociedade.

Depois disso, a franquia caracterizou-se pela irregularidade, com filmes ótimos, como "X2"(2003), e catástrofes como "X-Men: o confronto final" (2006) ou o primeiro filme solo do Wolverine (2009). Desde a retomada da franquia, com X-Men: primeira classe (2011), que funcionou como prelúdio e reboot da saga, os filmes tem mantido a qualidade. O mesmo acontece no novo episódio, "X-Men: Apocalipse", também dirigido por Singer, que, se não é um filme espetacular, ao menos mantém a diversão e fecha sem passar vergonha a segunda trilogia do grupo.


Dando sequência ao esquema um-filme-em-cada-década, a história agora se passa em 1983, dez anos após os eventos do filme anterior. Como a cena pós-créditos de "Dias de um futuro esquecido" (2014) já indicava, somos apresentados à história de En Sabah Nur (Oscar Isaac), mutante poderosíssimo, que atravessa milênios trocando de corpos e absorvendo novos poderes. No Egito Antigo, ele é tratado como um deus. O roteiro, escrito novamente por Simon Kinberg, desta vez sobre uma história criada por ele próprio, em parceria com Singer, Michael Dougherty e Dan Harris, dá a entender que muitas das crenças antigas, como o deus Rá, ou os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, teriam sido inspiradas pela existência En Sabah Nur.

Traído e aprisionado, En Sabah Nur desperta no Cairo da década de 1980, e, ao compreender o mundo à sua volta, dominados pelos humanos e suas armas de violência, decide destruir as civilizações existentes e erguer uma nova era, onde os mutantes, tendo ele como liderança máxima, poderiam impor-se como raça superior. Enquanto isso, um jovem Scott Summers (Tye Sheridan, fraco) é levado por seu irmão Alex (Lucas Till, novamente no papel) à Escola de Jovens Superdotados do Professor Xavier, com o objetivo de aprender a controlar seus poderes recém-descobertos. Em uma terceira trama, Mística (Jennifer Lawrence) investiga a existência de novos mutantes, e encontra Noturno (Kodi Smit-McPhee) e Anjo (Ben Hardy)  em um clube de lutas no submundo de Berlim. Ao obter uma pista sobre o paradeiro de Magneto (Michael Fassbender), ela decide voltar à Escola e pedir ajuda a Xavier.


A partir dessas tramas, o filme segue em ritmo muito bom. Estão de volta o Professor Xavier (James McAvoy), o Fera (Nicholas Hault), Mercúrio (Evan Peters) e Moira MacTaggert (Rose Byrne), elo entre CIA e X-Men. Cabe à Sophie Turner (a Sansa da série de TV "Game of Thrones") assumir o papel de Jean Grey, vivido por Famke Janssen em outros filmes da franquia. A Tempestade jovem é interpretada por Alexandra Shipp, enquanto Psylocke aparece na pele de Olivia Munn, sendo que as duas últimas, junto ao Anjo e à Magneto, comporão os Quatro Cavaleiros de Apocalipse (não me xingue, não é spoiler, está no trailer).

Eis aí um dos primeiros problemas deste e de outros filmes dos X-Men: a quantidade de personagens é tão grande que fica muito difícil apresentar uma construção de personalidade ou um arco relevante para todos eles. Como consequência, muitos dos mutantes que são protagonistas nos quadrinhos acabam virando coadjuvantes ou capangas de luxo. Para os fãs, pode ser bastante decepcionante, ainda que, para o público que só conhece as adaptações cinematográficas, esse acaba sendo um defeito menos notado.


Outra irregularidade do filme são os efeitos digitais. Enquanto algumas sequência são muito boas - como, por exemplo, um momento mais para o fim do filme em que Magneto está voando e se protegendo de objetos à sua volta -, em outros - principalmente nas cenas que envolvem pirâmides - a sensação é de CGI feito para TV, com sensação zero de realidade.


Ainda no que diz respeito à parte visual do filme, o envelhecimento dos personagens é tratado com desleixo. Xavier e Magneto, que já tinham perto de 10 anos de idade ao final da II Guerra Mundial, deveriam aparentar cerca de 50 neste filme - algo que não é mostrado nem na maquiagem nem na interpretação dos atores. Moira MacTaggert envelhece mais em dez anos do que os dois em vinte. Pode parecer só enjoo de crítico, mas esses elementos prejudicam um pouco da coerência interna da saga (o que, aliás, é melhor nem tentar se deter, porque nem Doc Brown explica o que Patrick Stewart está fazendo em "Dias de um Futuro Esquecido").

O filme abunda em referências à década de 1980, que vão desde elementos de figurino (um pós-punk na Mística, uma ombreira na Jean Grey, uma manga enrolada em um blazer, e - riam! um dos personagens com a jaqueta vermelha clássica de Michael Jackson). Além disso, há citações musicais (como um clássico das pistas em mais uma cena sensacional envolvendo o Mercúrio), de videogames (alguém jogando Pac Man) e políticas (um poster de Ronald Reagan em determinado cenário). Tudo isso compõe a época, por um lado, mas parece gritar "viu?  entenderam que estamos nos anos 1980?  eu explico de novo...", o que soa redundante.

Um último comentário sobre a parte negativa do filme é a utilização de pelo menos dois clichês que já estão enjoando:  um trauma familiar para motivar um personagem à engajar-se na luta, e um personagem apelando para o emocional do outro, para que um domínio mental seja quebrado. Está na hora de criarem coisas novas, roteiristas...


O que o filme tem de melhor são algumas das interpretações. Michael Fassbender consegue dar um peso ao drama de Magneto - embora o roteiro não ajude, e subestime demais a maturidade do personagem - que supera a média em blockbusters. Turner, pos sua vez, escapa da tentação de repetir uma Sansa Stark, e será muito interessante ver a evolução dos poderes e transtornos de Jean Grey em filmes futuros. Peters (de novo!) rouba a cena como Mercúrio, sempre que aparece, e Smit-McPhee faz um Norturno que é responsável por diversos momentos de alívio cômico, sem que, com isso, seu personagem seja pateta.

Jennifer Lawrence retoma sua Mística, de maneira razoavelmente burocrática. Para piorar, o roteiro a coloca numa posição próxima da de Katniss Everdeen: heroina e inspiração para todos os mutantes. Acaba que temos uma Mística recebendo uma importância que nunca teve nos quadrinhos. Hault e seu Fera acabam bastante subutilizados.


Ocorre aqui um problema inverso de casting do que ocorrera no primeiro filme da franquia: lá, Wolverine (Hugh Jackman) foi considerado alto demais para o papel. Aqui, houve muita reclamação sobre Jason Isaac não ter a imponência física que Apocalipse demandaria. Tanto lá quanto cá, a interpretação dos atores superou a inadequeção de sua altura: Isaac entrega um Apocalipse que transmite a aura de divindade, em um papel que poderia facilmente escorregar para a caricatura.

E, por falar em Wolverine, acalmem-se, fãs viciadinhos. Ele está no filme, e participa de uma forma relativamente orgânica. A parte positiva é que, assim como em "Primeira Classe", os roteiristas tiveram a liberdade de usar outros personagens na trama, o que é um alívio para o excesso de Wolverine quando ele é parte central do enredo.

Com tantos aspectos negativos mencionados, pode parecer que saldo final não é positivo. Pelo contrário: o filme funciona bem, prende o espectador e tem a capacidade de lidar e entrelaçar várias tramas até levar ao desfecho... apocalíptico (pun intended).


As cenas de ação também são boas. Além da mencionada cena protagonizada por Mercúrio, maior e mais divertida ainda do que a do filme anterior, os poderes do Noturno são bem representados e rendem cenas de combate graficamente emocionantes. As coreografias de Wolverine transmitem mais selvageria e precisão como máquina de matar, ainda que tenham de economizar no sangue para manter a classificação etária do filme. Nas cenas envolvendo vários personagens, não há muita dificuldade em entender o espaço cênico, ainda que o cacoete de personagens lutando dois a dois, e não em grupo, aconteça aqui como em outros filmes com muitos heróis.

Há que se elogiar, igualmente, a trilha sonora de John Ottman. Desde os cânticos egípcios de louvor do início do filme até a trilha instrumental das cenas de ação, a música ajuda a criar um clima épico para o filme.

Os fãs mais puristas poderão se irritar, mas "X-Men: Apocalipse" funciona muito bem como diversão, e, embora não seja tão bom quantos os dois anteriores, consegue fechar arcos soltos da cronologia mutante, ao mesmo tempo em que prepara terreno firme para a continuação da franquia. 

  

PS: Há uma cena pós-créditos.
PS2: Sabe o que mais 1983 nos trouxe?


por Daniel Guilarducci


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