AVE, CÉSAR !



Gênero: Comédia
Direção: Ethan Coen, Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen
Elenco: Josh Brolin, Geroge Clooney, Scarlett Johansson, Channing Tatum, Alden Ehrenreich, Ralph Fiennes, Tilda Swinton, Christopher Lambert, Frances McDormand, Alex Karpovsky, Clancy Brown, David Krumholtz, Dolph Lundgren, Emily Beecham, Fisher Stevens, , Jillian Armenante, Jonah Hill, Kyle Bornheimer, Ming Zhao, Patrick Fischler, Peter Jason, Robert Picardo. 
Produção: Eric Fellner, Ethan Coen, Joel Coen, Tim Bevan
Fotografia: Roger Deakins
Montador: Ethan Coen, Joel Coen
Trilha Sonora: Carter Burwell
Duração: 106 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 14/04/2016 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures Brasil
Estúdio: Mike Zoss Productions / Working Title Films

Sinopse: em 1954, diretor de estúdio tem de lidar com diversos problemas no dia a dia. Tudo se complica quando o astro do principal filme em produção é sequestrado no meio das filmagens. 


Nota do Razão de Aspecto:



Os irmãos Ethan e Joel Coen possuem uma filmografia na qual é muito difícil identificar um filme ruim – pelo contrário, é bastante trivial encontrar filmes acima da média, e cito "Fargo", "Onde os fracos não têm vez" e "O Grande Lebowski", para ficar apenas em três. Dito isso, particularmente, eu tenho dificuldades em encontrar identificações secundárias na maioria das obras, que, em geral, mergulham em contradições da cultura norte-americana, com um viés que acaba me distanciando dos filmes.  Em outras palavras, as obras dos irmãos Coen acabam naquela prateleira dos "filmes ótimos, mas que eu não gosto tanto".

As exceções talvez sejam "Ei, meu irmão, cadê você?", em que eu me diverti tentando identificar as referências entre a Odisseia de Homero e a saga dos picaretas fugitivos da prisão no sul dos EUA nos anos 1930, e este "Ave, Cesar", em que os Coen, ao mesmo tempo, prestam uma homenagem e fazem uma crítica aos bastidores da produção cinematográfica hollywoodiana da década de 1950. 


A história tem como protagonista a figura de Eddie Mannix (Josh Brolin), "Chefe de Produção Física" do fictício Capitol Pictures, estúdio cinematográfico que já aparecera na obra dos Coen em "Barton Fink". Aliás, o personagem Eddie Mannix já fizera sua estreia nas telas, no longa "Hollywoodland", lá interpretado por Bob Hoskins. Ao contrário do estúdio, Mannix é baseado em seu homônimo da vida real, conhecido por ser um "fixer" – alguém responsável por manter a boa imagem dos astros e estrelas de hollywood, mesmo quando a vida pessoal deles não fosse tão perfeitinha assim.


Em "Ave, Cesar!", Mannix tem de lidar com os problemas trazidos pelo dia a dia do estúdio, que vão desde a gravidez solteira de uma de suas principais atrizes, DeeAnna Moran (Scarlett Johansson), até a adaptação de Hobie Doyle (Alden Ehrenreich), astro de westerns, carismático mas pouco talentoso , para um filme dramático do estúdio, passando pela pressão de duas irmãs gêmeas jornalistas (interpretadas por Tilda Swinton) por notícias. Tudo se agrava quando Baird Whitlock (George Clooney), grande astro do estúdio, que protagoniza o grande lançamento do ano – o "Ave, César!" do título – é sequestrado antes do final das filmagens.


A pluralidade de histórias não torna em nada o filme confuso – até porque, não é a trama, em si o principal elemento de "Ave, Cesar". A história é uma desculpa para que os irmãos Coen apresentem cenas das produções cheias dos cacoetes (de filmagem, de trilha sonora, de interpretação, de maquiagem) dos filmes hollywoodianos da década de 1950. Assim, há os musicais aquáticos, cheios de nado sincronizado e sereismo; musicais em que cenas triviais dão origem a longos e divertidos números de sapateado; faroestes cheios de piruetas do protagonista com cavalos; os filmes noir, com narração em off e o visual nortuno de Mannix, permanentemente de sobretudo e chapéu; e, claro, o tom grandioso dos filmes bíblicos. Sobra até para Carmen Miranda, referenciada na figura de Carlotta Valdez (Veronica Osorio). Essas cenas, do ponto de vista estrito de desenrolar da trama, seriam completamente dispensáveis – mas são elas que dão carne e gosto ao filme. 


O filme conta, ainda, com participações especialíssimas, e em geral hilárias, de Channing Tatum, dando show de canto e sapateado; Ralph Fiennes – diretor de dramas que tem de lidar com um astro de ação tentando expressar emoções; Christopher Lambert, que interpreta um diretor sueco com um passado amoroso peculiar; e a queridinha dos Coen, Frances McDormand, como editora/montadora dos filmes do estúdio. 


Além do elenco caprichado, as situações e os diálogos criados pelos Coen acabam gerando momentos inteligentes e divertidos – e é impossível não ter a impressão de se estar assistindo um filme de Woody Allen em alguns momentos - especialmente nas conversas entre sequestradores (sobre os quais de propósito não comentei mais aqui) e o astro principal, no cativeiro, e em um encontro entre representantes de três vertentes do cristianismo, um rabino e o diretor do estúdio (woodyalleniano o suficiente para você?), para aprovarem a abordagem de Jesus feita durante "Ave, Cesar".

Uma possível fragilidade de "Ave, César!" é funcionar melhor quando a audiência conhece as referências mostradas. Para alguém que não enxergue, por exemplo, Charlton Heston ou Kirk Douglas no personagem de Clooney; Gene Kelly no de Tatum; ou Esther Williams no de Johansson, uma boa parte da sátira da obra ficará bastante limitada.

Para muitos, pode ser um filme menor, ou menos ousado, dos irmãos Coen. Mas é uma comédia deliciosa, recomendada, em especial, para quem gosta do cinema clássico hollywoodiano.


por D.G.Ducci



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