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Gênero: Ficção Científica

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan

Elenco: Alexander Michael Helisek, Andrew Borba, Anne Hathaway, Benjamin Hardy, Bill Irwin, Casey Affleck, Collette Wolfe, David Gyasi, David Oyelowo, Ellen Burstyn, Elyes Gabel, Francis X. McCarthy, Jeff Hephner, Jessica Chastain, John Lithgow, Kristian Van der Heyden, Leah Cairns, Lena Georgas, Liam Dickinson, Mackenzie Foy, Mark Casimir Dyniewicz, Marlon Sanders, Matt Damon, Matthew McConaughey, Michael Caine, Timothée Chalamet, Topher Grace, Wes Bentley, William Devane, William Patrick Brown

Produção: Christopher Nolan, Emma Thomas, Linda Obst

Fotografia: Hoyte Van Hoytema

Montador: Lee Smith

Trilha Sonora: Hans Zimmer

Duração: 169 min.

Ano: 2014

País: Estados Unidos

Cor: Colorido

Estreia: 06/11/2014 (Brasil)

Distribuidora: Warner Bros

Estúdio: Lynda Obst Productions / Paramount Pictures / Syncopy / Warner Bros. Pictures

Classificação: 10 anos

Informação complementar: Baseado nas teorias do físico Kip Thorne

Sinopse: A Terra está á beira do colapso. Grande parte de suas reservas naturais acabaram, e um grupo de astronautas recebe a missão de encontrar um planeta habotável, com o objetivo de salvar a espécie humana da extinção . Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), o protagonista seguirá em busca de um novo lar e um novo destino para a humanidade.



Nota do razão de Aspecto:


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Christopher Nolan é um diretor que passou a integrar meu horizonte de expectativas depois de seu grande trabalho na mais recente trilogia de Batman. Assim como Cameron Crowe, trata-se daqueles diretores que nunca acompanhei especial ou especificamente, mas que, quando me dei ao trabalho de pesquisar, descobri que já admirava diversas realizações anteriores - em épocas remotas, quando minha paixão por cinema se restringia exclusivamente ao papel de espectador, sem grande reflexão sobre as obras. Das realizações de Cristopher Nolan, eu já admirava Amnésia, Insônia e A Origem. Não por acaso, Interestelar faz parte desse conjunto de obras que tratam fundamentalmente da distorção do espaço-tempo, o que o torna naturalmente instigante para o meu gosto cinematográfico.


Interestelar merecia ter sido produzido em  3D. Muitas das sequências de ação no espaço, especialmente o pouso nos "planetas viáveis", mas, acima de tudo, a sequência em que o personagem de Matthew McConaughey ingressa no Buraco Negro, poderiam ter-se tornado uma das melhores sequências jamais realizadas em 3D, além, é claro, do evidente paradoxo que se criaria entre a tridimensionalidade do nosso universo e a pentadimensionalidade do universo desconhecido retratado pelo filme. Como não existe história contrafactual, sequer posso criticar a escolha do diretor, que tem todo o direito de ter suas preferências, mas não posso deixar de registrar meu sentimento de que o recurso do 3D, desde que bem utilizado, teria transformado Interestelar em uma experiência única e inovadora.


O primeiro grande mérito de Interestelar é a verossimilhança científica de sua premissa básica, fundamentada na teoria da relatividade. Não há a menor dúvida de que haverá algum espectador ou crítico de plantão para encontrar alguma incoerência, apesar do grande trabalho realizado pelo roteiro de Christopher Nolan e de seu irmão Jonathan Nolan. Nenhuma incoerência menor reduzirá o mérito e a ousadia da empreitada, muito menos reduziria Interestelar a uma obra irrelevante. Se fosse assim, todas as inverossimilhanças científicas de Star Wars teriam tornado um dos maiores clássicos da história do cinema uma "comédia pastelão" de ficção científica. Quando tratamos do gênero de ficção científica,  a ênfase fica no substantivo, e não no adjetivo.

O ponto mais relevante de toda a preocupação do roteiro com a fundamentação científica é a organicidade da distorção do espaço-tempo no desenvolvimento da trama, mais especificamente no drama pessoal de Cooper, que pretende salvar a vida dos filhos, bem como de seu drama moral e ético de não deixar a humanidade desaparecer apenas por ter perdido tempo demais, e no drama pessoal Anne Hathaway, que busca reencontrar o amor que perdeu em meio ao projeto de busca de um novo lar para a humanidade. A relação entre os amores fraterno e romântico com a distorção do espaço-tempo é o motivo que sustenta o argumento de toda a trama.

O segundo grande mérito do filme são as atuações excelentes de seu elenco (inter) estelar em todos os papéis. Especialmente Matthew McConaughey, Michael Caine, Matt Damon, Anne Hathaway, Jessica Chastain e a jovem Mackenzie Foy conferem à trama a dose exata de emoção, de desespero e de intensidade para que as relações construídas entre personagens separados por décadas de diferença no espaço-tempo criem empatia com o público. Os atos de heroísmo também são realizados por motivos egoístas sem que isso diminua em nada a sua importância, como demonstra cada um dos personagens centrais.


O ponto mais baixo de Interestelar é o seu terceiro ato, quando a sequência final desperdiça grande parte da premissa desenvolvida ao longo da trama e leva o espectador a acreditar que se tratava meramente de uma simples história de amor "brega". Trata-se de um filme que nos causa a sensação relativamente familiar de que perdeu a oportunidade de acabar bem e de que excedeu em pelo menos 30 minutos o tempo necessário para se que tornasse um grande filme, em vez de ser um filme apenas bom. Acredito que aqueles que ainda não viram o filme compartilharão desse sentimento e chegarão sempre a conclusões muito semelhantes sobre qual seria o momento correto de encerrar a história.


Para compreender Interestelar, precisa-se entender que, apesar dos escorregões bregas, não se trata de um filme dedicado a romantizar a ciência e a demonstrar como os sentimentos superam todos os obstáculos. Ao contrário, a trama nos dá respostas claras a essa pergunta, demonstrando que se trata da cientifização do Amor. Naquele universo hipotético, o Amor é uma força física que, como a gravidade, ultrapassa o espaço-tempo, mas não é ainda compreendida pela humanidade em seu universo tridimensional. Dessa forma, o conflito entre razão e emoção na realização de uma escolha constitui, na verdade, um conflito entra a limitação do universo humano conhecido e aquilo que ele ainda não compreendeu. 


Apesar da frustração com a sequência final, Interestelar  faz jus à obra de Christopher Nolan, em função do desenvolvimento da trama em seu segundo ato, das grandes atuações e das sequências de ação que, sem eliminar em nenhum momento a tensão psicológica, fazem o espectador manter-se grudado na cadeira como se estive acompanhando nossos heróis em uma viagem possivelmente sem volta em busca da salvação.





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